Monday, April 21, 2008

Correio Braziliense

ELEIÇÃO NO PARAGUAI
Esperança em Itaipu
Fernando Lugo, favorito na votação de hoje, quer exigir mais do Brasil pela energia da hidrelétrica, para bancar seu projeto de combate à pobreza. Tema da campanha amplia sentimento antibrasileiro
João Cláudio Garcia
Os paraguaios vão às urnas hoje para as eleições que podem representar a mais significativa transformação política no país em 61 anos. Esse é o período de domínio do Partido Colorado na presidência. A supremacia continuou durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), até o atual chefe de Estado, Nicanor Duarte. Mas a população parece ter se cansado de esperar por dias melhores. Para o Banco Mundial, 32% dos paraguaios vivem abaixo da linha de pobreza. O candidato que mais vinculou sua campanha à idéia de mudança, Fernando Lugo, chamado de “bispo dos pobres”, é o favorito para vencer. Lugo, na verdade, é um ex-bispo. Ele suspendeu o trabalho religioso em 2006 para lutar pela sucessão de Duarte, mas disse que pretende voltar à Igreja depois de cumprir um mandato como presidente. Fortalecido por um racha entre os colorados, ele impulsionou a plataforma de sua Aliança Patriótica para a Mudança com uma estratégia rejeitada pelo atual governo: pressionar o Brasil a renegociar os termos do Tratado de Itaipu. Inaugurada em 5 de novembro de 1982, a hidrelétrica produz energia que é dividida igualmente entre os dois países. Mas o Paraguai só usa 5% da eletricidade que lhe cabe. O restante é vendido ao Brasil abaixo do preço de mercado. O tratado prevê que o excedente não pode ser oferecido a terceiros. Em 2007, o Paraguai recebeu US$ 307 milhões de Itaipu e pouco mais de US$ 100 de Yacyretá, usina compartilhada com a Argentina. Lugo defende que seu país deve receber do Brasil cerca de US$ 2 bilhões anuais pela eletricidade. Mas, para o governo brasileiro, a renegociação é impossível antes do fim do contrato, em 2022, mesmo porque os custos da obra ainda precisam ser cobertos. O ex-bispo considera o dinheiro essencial para bancar o desenvolvimento paraguaio. Hoje, o desemprego é de 11,4%. Dois milhões dos quase 7 milhões de habitantes ganham menos que o salário mínimo — de 1,3 milhões de guaranis, cerca de US$ 300. O orçamento para 2008 é de US$ 5 bilhões, dos quais 65% estão comprometidos com o pagamento de 220 mil funcionários públicos e a manutenção da infra-estrutura estatal. “Não há pressão neste momento, por parte da população, para se mudar o tratado, mas sim de alguns organismos, como a Controladoria. Alguns senadores e deputados apresentam projetos com propostas de alteração do acordo, com críticas à gestão de Duarte. Porém, estamos mais preocupados com outros temas, como educação, saúde, e nem tanto com Itaipu”, explicou ao Correio Nathalia da Costa, diretora do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Autônoma de Assunção. O ex-general Lino Oviedo, que na pesquisa mais recente do jornal Última Hora aparece em segundo lugar, empatado com a colorada Blanca Ovelar — ele com 29% das intenções de voto, ela com 28% —, é contra a renegociação de Itaipu. Oviedo disse recentemente que isso seria “perda de tempo” e “acabaria com a paciência do Brasil”. Blanca, por sua vez, propõe a criação de uma comissão de analistas representada por todos os setores antes de negociar políticas energéticas com Brasil e Argentina. Divisões O ex-bispo, que tem 34% das preferências, se beneficiou das divisões no partido governista. Na disputa interna, Blanca foi escolhida candidata por uma pequena vantagem sobre o ex-vice-presidente Luis Castiglioni, que depois se recusou a ajudá-la. Ao tornar Itaipu a base de seu projeto político, Lugo incentivou um sentimento de indignação para com o Brasil. “Embora o Brasil tenha uma auto-imagem complacente, a percepção que temos no Paraguai é a de um país hegemônico, e essa hegemonia se expressa, dentre outras coisas, no que eles consideram serem termos injustos do tratado”, disse Alcides Costa Vaz, vice-diretor do Instituto de Relações Internacionais da UnB. “É uma questão com a qual o Brasil deve tratar, porque não se trata apenas do relacionamento com o Paraguai. São percepções do Brasil como potência hegemônica que existem, numa escala menor, em outros países vizinhos, como Bolívia e Uruguai”, acrescentou Costa Vaz. Além do presidente, os cerca de 2,8 milhões de eleitores paraguaios escolhem hoje senadores, deputados federais e estaduais, parlamentares do Mercosul e governadores. O voto, em cédulas de papel, não é obrigatório, e não há segundo turno. 34% é a intenção de voto para Fernando Lugo, segundo pesquisa do jornal paraguaio Última Hora 29% dos eleitores preferem o general aposentado Lino Oviedo, de acordo com a mesma sondagem 28% dos votos seriam para a candidata governista, Blanca Ovelar, ex-ministra da EducaçãoPARA SABER MAISRessentimento históricoSegundo país mais pobre da América do Sul, atrás da Bolívia, o Paraguai já foi a maior potência econômica da região. Governantes que se sucederam na primeira metade do século 19 adotaram projetos nacionalistas e desenvolveram bastante a indústria e a agricultura do país. Os produtores tornaram-se praticamente auto-suficientes, ao contrário dos demais países sul-americanos, que ainda dependiam do financiamento estrangeiro. A fabricação de tecidos, papel, pólvora, louça e tinta era o ponto forte dos paraguaios, que também construíam suas próprias armas e ferrovias. Mas então veio a Guerra do Paraguai (1864-1870). O ditador paraguaio Francisco Solano López se irritou com a intervenção brasileira no Uruguai, cujo regime era aliado de Assunção. Como represália, López prendeu no porto da capital paraguaia o navio brasileiro Marquês de Olinda e depois atacou a cidade de Dourados, no Mato Grosso. Também invadiu território argentino, na tentativa de anexar o Rio Grande do Sul. Em resposta, Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança. O exército brasileiro ocupou Assunção no começo de 1869. Para os paraguaios, o conflito teve um custo histórico incalculável. Dois terços da população masculina morreram. A indústria foi arrasada, e a economia voltou a ser quase que completamente agrícola. A dívida com o Brasil só seria perdoada no governo de Getúlio Vargas. Os estragos realizados por brasileiros, argentinos e uruguaios causaram feridas profundas na sociedade paraguaia. O sentimento de exploração e injustiça se agravou com o Tratado de Itaipu, na década de 1970. A usina binacional começou a ser construída em 1974, com pesados investimentos brasileiros. A obra impulsionou a economia do Paraguai: o PIB do país vizinho, que havia crescido 5% em 1975, aumentou 10,8% em 1978. A inauguração ocorreu em 1982, quando os presidentes João Figueiredo e Alfredo Stroessner abriram as 14 comportas. Desde então, apesar dos benefícios para a economia nacional, sucessivos governos paraguaios reclamam do baixo valor da cota de energia vendida ao Brasil e das barreiras incluídas no acordo.
Correio Braziliense

Fuzileiros navais chegam à capital
Pablo Rebello
O desafio chegou ao fim. Após 22 dias na estrada, a pé, duas colunas de 230 fuzileiros navais vindos do Rio de Janeiro pisaram em Brasília. Os militares ocuparam uma faixa da via L4 Sul e atraíram a atenção de motoristas, que diminuíram a velocidade para ver a tropa passar. A marcha, que comemora o bicentenário da força, remete ao feito realizado pela Operação Alvorada em 1960, quando 124 fuzileiros navais, marinheiros e civis marcharam 24 dias para comemorar a inauguração da nova capital. Os participantes da marcha ganharam uma homenagem quando chegaram à sede da força em Brasília. Uma placa com o registro da marcha foi inaugurada pelo comandante da Marinha, almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto. Amanhã, os recém-chegados participarão das comemorações do aniversário da cidade na cerimônia de substituição da bandeira nacional, às 9h, e com apresentação de banda sinfônica na Esplanada dos Ministério às 17h. Um estande com informações sobre Corpo dos Fuzileiros Navais também estará montado em frente ao Complexo Cultural da República. A chegada dos fuzileiros a Brasília trouxe um sentimento de realização para os militares. “Foi um trabalho excepcional. Atingimos todas as expectativas esperadas e chegamos na data marcada. Tudo graças a um planejamento detalhado e a uma preparação, física e mental que nos permitiu vencer as dificuldades”, avaliou o comandante da Força de Fuzileiros de Esquadra, vice-almirante Paulo César Stingelim Guimarães, que conduziu a tropa do Rio de Janeiro a Brasília. Destaques Única mulher a participar da marcha, a suboficial Sônia Brilhante Wanderley, 44 anos, disse que conseguiu realizar um sonho. “Queria fazer algo que orgulhasse meus filhos, mas não esperava ganhar tanta atenção”, afirmou a moça, que ganhou lugar de destaque entre os companheiros. Não só por ter participado da longa caminhada, mas por ter se voluntariado para tomar parte dela. A fuzileira, que costuma participar de meias maratonas, disse que a caminhada foi difícil, principalmente nos cinco primeiros dias. “Mas valeu à pena por ter me dado uma história para contar aos netos.” Assim como na década de 1960, os fuzileiros chegaram a Brasília com uma companhia inesperada: um cachorro que se integrou à marcha logo nos primeiros dias de caminhada. Duzentos, como passou a ser chamado o animal, em homenagem ao bicentenário da força, chegou à cidade à frente da tropa devidamente caracterizado com farda da força. Na primeira marcha para a nova capital em 1960, dois cachorros apelidados de “Tequila” e “Alvorada” acompanharam os militares. Os fuzileiros ficarão em Brasília até quarta-feira, quando retornam de ônibus para o Rio de Janeiro. Animados com a visita, eles esperam conhecer a cidade nos próximos dias, além de participar das comemorações do aniversário da capital.
Folha de São Paulo

PARCERIA COM VENEZUELA, CUBA RETOMARÁ PESCA EM ALTO MAR
O ministro cubano da Indústria Pesqueira anunciou ontem a retomada da pesca em alto mar em conjunto com a Venezuela a fim de ampliar a oferta insuficiente à população. Alfredo López, diz a Prensa Latina, anunciou a criação de uma empresa mista, sem detalhar.
Folha de São Paulo

CRISE NO ZIMBÁBUE
Navio com armas chinesas deve atracar em Angola
Após ser impedido de descarregar na África do Sul, o navio chinês que transporta armas vendidas ao Zimbábue deve atracar em Angola.Na última sexta, após a recusa dos estivadores sul-africanos em desembarcar e transportar a carga, uma ordem judicial da Suprema Corte de Durban obrigou o cargueiro An Yue Jiang a deixar a costa do país.A decisão foi motivada pelo temor de que as armas fossem utilizadas pelo governo de Robert Mugabe contra a oposição. Segundo Mugabe, não há relação entre a eleição presidencial, realizada no último dia 29 e ainda sem resultados oficiais, e a compra dos cartuchos de munição, morteiros e granadas.Presidente da coalização opositora Aliança Democrática, Helen Zille disse crer que as armas possam ser usadas em uma campanha de intimidação.A oposição acredita ter vencido o pleito. Há 28 anos no poder, Mugabe pediu a recontagem dos votos.O candidato da oposição, Morgan Tsvangarai, que deixou o Zimbábue no dia 10, continua no exterior e declarou que teme ser atacado ou preso caso retorne ao país.

Folha de São Paulo

Petróleo e gás terão investimentos de ao menos US$ 72 bi
Cifra é considerada pelo setor um piso dos recursos destinados à exploração e à produção e não inclui descobertas no pré-sal . Estimativa é que só o campo de Tupi consumirá investimentos de US$ 50 bi,
PEDRO SOARES e ROBERTO MACHADO
O Brasil receberá investimentos de US$ 72 bilhões em exploração e produção de petróleo e gás de 2008 a 2012, estima o IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo). A cifra corresponde a 4,6% do PIB de 2007, mas é apenas o piso previsto pelo setor. É que, após a descoberta de novas reservas na camada pré-sal, o país deverá atrair uma onda de recursos sem precedentes para a atividade.Nessa conta de US$ 72 bilhões não entram os recursos que serão destinados à exploração do pré-sal. Apenas o campo de Tupi consumirá investimentos de US$ 50 bilhões (o equivalente a R$ 83 bilhões) em dez anos, segundo previsão do secretário-executivo do IBP, Álvaro Teixeira. Trata-se da primeira reserva delimitada do pré-sal, com reservas de 5 bilhões a 8 bilhões de barris e que, sozinha, contará com recursos equivalentes a 16,5% do orçamento total do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) -R$ 504 bilhões.O cálculo considera a necessidade de 9 a 10 plataformas para explorar a megarreserva. E não inclui outros campos tão promissores quanto Tupi, como os de Júpiter e Carioca. O último causou controvérsia na semana passada com a declaração do diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, de que teria reservas de 33 bilhões de barris -a Petrobras não confirmou.Nas outras descobertas do pré-sal, a Petrobras ainda faz testes para dimensionar o volume dos reservatórios, o que inviabiliza estimativas de investimentos. Mas, mesmo antes de a "nova fronteira" ter sido anunciada, o país já vivia um boom de investimentos em petróleo.O levantamento do IBP mostra que há hoje 304 mil km2 sob concessão para atividades de exploração e produção -em terra e no mar. É o equivalente a dois Estados do Ceará, que possui área de 148,8 mil km2.Do investimento total previsto pelo IBP antes do advento do pré-sal, US$ 54,5 bilhões serão alocados pela Petrobras, e os US$ 17,5 bilhões restantes, pelas demais empresas do setor -a maior parte dos recursos privados virá de empresas estrangeiras.Ao todo, o setor de petróleo investirá US$ 128 bilhões, sendo US$ 97,4 bilhões da estatal e US$ 30,6 bilhões de outras empresas. A cifra inclui outros elos da cadeia: refino, dutos, terminais, petroquímica básica e distribuição."O que estimamos [para exploração e produção] é um piso. O pré-sal representa mudança brutal de contexto, que alterará radicalmente o perfil de investimentos do setor", disse Felipe Dias, gerente de Economia e Política Energética do IBP.Segundo o executivo, os custos são mais altos, e a tecnologia necessária à exploração é diferente e inovadora, o que dificulta quantificar o volume de investimentos necessários.Até agora, a Petrobras já investiu US$ 1,5 bilhão na prospecção nessa nova e promissora província petrolífera. A estatal perfurou 15 poços no pré-sal. Em todos, achou petróleo ou gás -o que indica um risco exploratório nulo.Tais resultados despertaram o interesse das petrolíferas que atuam no país. Além de parceiras em descobertas do pré-sal, como a BG (Reino Unido) e Galp (Portugal) na bacia de Santos, várias empresas informaram à Folha a disposição em prospectar petróleo e gás na área.Sozinhas ou em parceria com a Petrobras, Repsol (Espanha), Shell (Reino Unido-Holanda), Anadarko (Estados Unidos) e Partex (Portugal) disseram que estudam investir em exploração na camada pré-sal."Recebemos uma sonda capaz de atingir 10 mil metros e vamos perfurar no pré-sal em um bloco na bacia de Campos", diz Claudio Araújo, presidente da Anadarko no Brasil.A Partex perfurará, em parceria com Shell e Petrobras, dois poços num bloco (BM-S-10) da bacia de Santos, próximo às novas descobertas. Cada um custará US$ 70 milhões.A favor, encontram o atual preço do petróleo. Com o barril acima de US$ 110, muitos projetos, que antes não eram rentáveis, passam a ser viáveis.Em cursoSe o pré-sal aponta para um futuro promissor dos investimentos em exploração e produção, a realidade atual não é nada desprezível: só até 2011, a Petrobras gastará, ao menos, R$ 6,55 bilhões para colocar oito plataformas em operação, sem contar uma unidade não licitada ainda e outra a ser alugada. Juntas, terão capacidade para extrair 1 milhão de barris/dia de óleo e 35 milhões de metros cúbicos de gás.Neste ano, começará a produzir a P-51, no Marlim Sul (bacia de Campos), cujo custo total ficou em R$ 2,3 bilhões. Também entrará em operação no campo de Marlim Leste a P-53, que será arrendada. Em janeiro de 2009, será a vez da PMXL, no campo de Mexilhão (bacia de Santos), a primeira focada na produção de gás.Esses recursos destinados à exploração e à produção de petróleo e gás natural são a base de uma cadeia produtiva que multiplica investimentos.Segundo estudo realizado por economistas do BNDES, os investimentos da indústria do petróleo como um todo atingirão R$ 202,8 bilhões nos próximos quatro anos. Será um crescimento de 10% em relação ao período que vai de 2003 a 2006.

Folha de São Paulo

Exploração em alto-mar teve início em 1974
Na sede da Petrobras, no centro do Rio, a excitação com o pré-sal remete a um "momento histórico" da estatal: a descoberta do campo de Garoupa, no fim de 1974, no litoral fluminense. Garoupa é considerado o marco mais importante da exploração de petróleo em alto-mar -iniciada em 1968 no campo de Guaricema, no Sergipe.As explorações na bacia de Campos haviam começado quase dois anos antes, sem êxito. A previsão era que a "busca" de óleo na região terminasse em 1974. Coube ao geólogo Carlos Walter Marinho a decisão de continuar com a exploração. Em dezembro, fim do prazo, os testes do poço 1-RJS-9A revelaram reservas de 100 milhões de barris. Com a descoberta de Garoupa, Walter obteve reconhecimento internacional e se tornou uma espécie de lenda na Petrobras. Nos dez anos seguintes, a estatal triplicou a capacidade de produção. Em 1984, produzia cerca de 500 mil barris por dia. Havia também o contexto geopolítico: desde 1973, o mundo assistia à primeira crise do petróleo, com disparada do preço internacional e pressão inflacionária sobre os países importadores. Com a exploração na bacia de Campos, o Brasil se tornou, progressivamente, menos dependente de petróleo.A partir da segunda metade da década de 1970, novas descobertas impulsionaram ainda mais a produção em alto-mar, com os campos gigantes de Albacora, Marlim, Barracuda-Caratinga e Roncador. Em 1997, a Petrobras chegou a 1 milhão de barris produzidos por dia -que, na época, representavam cerca de 60% do consumo nacional.A bacia de Campos ainda é considerada a maior reserva do país, responsável por cerca de 84% da produção nacional. De lá, são extraídos cerca de 1,5 milhão de barris de petróleo e 22 milhões de metros cúbicos de gás diários. A previsão é que, até 2010, a produção chegue a 1,8 milhão de barris.

Folha de São Paulo

Amazônia é nova fronteira de exploração petrolífera em terra
Se a camada pré-sal é a mais promissora área de exploração em mar, a sua correspondente em terra está no meio da selva amazônica. É a bacia do Solimões, com a terceira maior reserva de gás e a terceira maior produção de óleo e gás do país.Batizada de província petrolífera de Urucu (650 km de Manaus), a área produz 53 mil barris por dia de óleo ultraleve -de maior valor comercial e mais fácil refino. De tão leve, é conhecido como "gasolina natural", capaz de movimentar motores assim que extraído, mesmo sem ser processado.Mas a maior riqueza é o gás natural -produção de 10 milhões de metros cúbicos por dia, somente inferior à das bacias de Campos e Santos. A estatal só não extrai mais gás da reserva, que tem 100 bilhões de metros cúbicos, por não ter para quem vender. É que, enquanto não recebe as licenças ambientais que faltam para a construção de um gasoduto até Manaus (AM) e outro até Porto Velho (RO), não tem mercado suficiente para o produto. Até lá, a estatal é obrigada a reinjetar 6 milhões de metros cúbicos por dia de gás nos poços.Mesmo assim, a estatal está otimista: possui 80 poços na região e espera perfurar 23 até 2012 -a companhia não detalhou o investimento destinado apenas à bacia do Solimões.No meio da selva, a Petrobras mantém ainda a maior produção brasileira de GLP (gás de cozinha), envasado em Coari (AM), maior unidade de processamento de gás natural do Brasil. Diariamente, mil toneladas de GLP são produzidas -equivalentes a 84.600 botijões de 13 kg. O produto supre toda região amazônica e é comercializado no Nordeste.

Jornal de Brasília

FERIADO
Diversão acessível
Público terá ônibus extras e metrô grátis
Funcionários do GDF trabalham a pleno vapor para deixar tudo pronto na Esplanada dos Ministérios para a próxima segunda-feira, dia em que Brasília completa 48 anos de idade. Segundo a Agência Brasiliense de Turismo (BrasiliaTur), cerca de 750 mil pessoas são aguardadas na festa e, para facilitar o acesso do público ao local, a Secretaria de Transportes não cobrará pelas viagens de metrô e disponibilizará ônibus extras.A medida vale para as linhas de ônibus público coletivo que operam na Rodoviária do Plano Piloto. O reforço será das 7h da manhã de segunda às 4h da manhã de terça. O Serviço de Transporte Alternativo do DF (STPA), operado pelas vans, funcionará até as 2h30 da próxima terça-feira para atender a demanda proveniente do metrô nas cidades por ele atendidas.Entre 12h e 14h30 do dia 21, a operação na Rodoviária do Plano Piloto será, excepcionalmente, transferida para a plataforma superior. Após o evento, a operação voltará ao normal. Devido às comemorações, as linhas que operam na Esplanada serão suspensas no feriado. As demais linhas do sistema vão utilizar tabelas horárias de feriado com reforço de viagens. Para atender o público, o metrô irá operar de graça das 7h da segunda-feira até 1h de terça.ConfraternizaçãoA festa começará às 7h ao som dos sinos de igrejas em todo o DF e deve terminar no início da madrugada da terça, 22 de abril, aniversário de 508 anos do Brasil. Na programação, um leque de atrações preparadas para atender aos mais variados gostos. Os shows mais aguardados são o do grupo pop mexicano RBD, às 15h, e o da banda baiana Chiclete com Banana, veterana do axé, encerrando a celebração.“A confraternização das famílias, de pessoas de todas as idades e de segmentos sociais é a grande marca da festa”, avaliou o vice-governador e secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Paulo Octávio, ao anunciar a programação das festividades. “Nos governos anteriores a comemoração foi muito tímida e não homenageou a cidade da forma que ela merece”, disse.Haverá, ainda, exposições de equipamentos, armamentos e viaturas das três Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros e das Polícias Civil e Militar do DF, além de mostras de fotografias do Arquivo Público e da Novacap. O público vai receber material educativo sobre preservação do meio ambiente e comportamento no trânsito. As crianças poderão aproveitar a brinquedoteca instalada em área de 40 mil m², além de espaços para a prática de atividades esportivas e lúdicas, como futebol de balão, cama elástica, tobogã e piscina de bolinhas. Shows da Esquadrilha da Fumaça e queimas de fogos de artifício também merecem destaque na programação, juntamente com a cavalgada de 3,5 mil cavalos e bois, vindos de vários pontos do País.Mais atraçõesO megaevento na Esplanada é só na segunda-feira, mas Brasília já está em clima de festa. Ontem, houve apresentação gratuita da cantora Célia Porto, na praça 704/705 Sul. Hoje, a celebração começa com o Projeto Brasília Saudável, às 9h, na 106/107 Sul. Haverá também performance do Circo Teatro Payaçu no Parque Olhos D'Água (10h) e teatro de bonecos na Vila Planalto (15h). Amanhã, o Eixão do Lazer servirá de palco para os grupos Pé de Cerrado (11h) e Fulô de Chita (13h), entre outras atrações.

Jornal do Brasil

Brasil tem hoje 3.800 refugiados de 72 países
Colombiano diz que não há escolha de ficar em seu país
Pedro Vieira
O colombiano Rubén Darío García Montoya ainda hesita em falar sobre os motivos que o levaram a deixar para trás família, amigos e carreira em Bogotá e vir para o Brasil como refugiado. Limita-se a mencionar intolerância sexual e perseguição em seu país de origem e explica que optou pelo Brasil por conta da avançada legislação sobre refugiados e a impressão de estar seguindo para um país mais "tranqüilo".A imagem de ilha de paz e tolerância do Brasil e as facilidades garantidas por uma legislação generosa e amadurecida em relação aos refugiados colaborou para atrair cerca de 3.800 refugiados de 72 nacionalidades diferentes hoje vivendo no País, que oferece um novo lar para 42% dos estrangeiros que postulam refúgio a cada ano – os dados não contabilizam os imigrantes clandestinos que não passam pelo contabilidades dos entidades assistenciais e do próprio governo. Mas a realidade encontrada em solo brasileiro pode ser bem mais dura do que os refugiados esperam, ao desembarcar no país.Idioma, a dificuldadeA barreira do idioma e a dificuldade de se integrar a um mercado de trabalho competitivo e ainda marcado pelo desemprego são os principais obstáculos enfrentados pelos refugiados, acredita Montoya, hoje empregado em uma operadora de telefonia móvel, professor de português para estrangeiros e administrador de um site (www.refugiadosbrasil.org) que busca apoio de empresas para vacilitar a colocação profissional de refugiados.– Tenho um amigo iraquiano que é especialista na área de petróleo, o problema é que ele só sabe falar inglês e árabe, mas ninguém aproveita o potencial dele – conta o colombiano. Segundo ele, as empresas ainda vêem com reservas o profissional refugiado – muitas vezes somos vistos como fugitivos da lei, existe aquela impressão de que quem não saiu de um país em guerra, deixou sua pátria por ter algo a esconder. Mas na verdade saímos do nosso país porque não temos mais escolha.Africanos são maioriaReflexos de guerras e conflitos étnicos ainda são os motivos que mais trazem refugiados para o Brasil. De acordo com o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Luiz Fernando Godinho, angolanos, congoleses e moçambicanos são os três maiores grupos de refugiados no País, representando 80% dos pedidos de refúgio ao governo brasileiro. Parte do orçamento do Acnur se destina ao pagamento de auxílio de custos aos refugiados admitidos no País que ainda não conseguiram emprego.O organismo atua em convênio com a Cáritas, organização não-governamental ligada à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se encarrega do contato direto com os refugiados, providenciando curso de português, repassando o auxílio financeiro e dando apoio na busca de emprego e moradia. Essa ajuda dura de três a seis meses e serve para bancar as necessidades básicas de alimentação e transporte do estrangeiro.– No momento em que o refugiado chega, é necessário integrá-lo na sociedade brasileira e o primeiro problema a solucionar é a questão do idioma - explica o diretor do escritório da Cáritas no Rio de Janeiro, Cândido Feliciano da Ponte Neto – a maioria dos refugiados acabam se sustentando porque se integram no mercado. Caso contrário temos uma rede de convênios que apóiam o estrangeiro.O porta-voz da Acnur, Luiz Fernando Godinho, admite que a dificuldade em encontrar empregos é hoje um dos maiores obstáculos para adaptação dos refugiados. Segundo ele, a legislação brasileira, considerada uma das mais avançadas do mundo na questão dos refugiados, não prevê nenhum tipo de incentivo à contratação de estrangeiros no País. Os refugiados, explica Godinho, entram no mercado de trabalho em condições de igualdade com os brasileiros, o que, por conta da barreira idiomática, pode ser um contratempo na hora de conseguir meios para se sustentar.– Mas não é essa a função da lei de refugiados, cujo principal objetivo é garantir proteção legal e impedir que essas pessoas sejam devolvidas a seus países, em caso de risco de vida – observa – as dificuldades enfrentadas variam de acordo com a capacidade de adaptação dos refugiados. Nós damos o suporte.
Jornal do Brasil

Marcha de resistência e cidadania
Em 22 dias, eles percorreram 1.200 km entre Rio e Brasília. E ainda ajudaram comunidades
Raphael Bruno
Chegaram ontem a Brasília 230 militares do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha, que há 22 dias marcham desde o Rio de Janeiro. A iniciativa faz parte das comemorações do 48º aniversário da fundação da capital e dos 200 anos do Corpo de Fuzileiros Navais.Foram 1.200 quilômetros percorridos. Cerca de 55 por dia. Quase 500 homens envolvidos na operação. Dezessete municípios e quatro Estados atravessados. Onze horas de caminhada diárias. Uma longa jornada desde a madrugada do dia 29 de março até o meio-dia de ontem em Brasília.Rotina pesadaPara completar o trajeto no tempo previsto, os corajosos fuzileiros que encararam o desafio tiveram que se submeter a uma rotina pesada. O dia começava às 3h30. Uma hora para se arrumar e café-da-manhã. Às 4h30, era pé na estrada. Do início do dia em diante, cada hora de caminhada era intercalada por descansos de 10 minutos. Sete pequenas refeições diárias para repor as energias. O repouso noturno só era liberado depois de cumpridos, religiosamente, os 55 quilômetros diários.O JB foi ao encontro dos fuzileiros já na reta final da viagem. Com a ajuda da Marinha, a marcha foi interceptada nos arredores de Cristalina-GO, a 150 quilômetros de Brasília. Animados pela proximidade do destino, os militares não acusavam o cansaço. Seguiam animados, até mesmo sorridentes, num ritmo surpreendentemente veloz. O sol escaldante. O horizonte da rodovia apontando subida generosa.– No início era comum chegar com algumas dores no final do dia. Mas, agora, é aquele sentimento sagrado de missão cumprida que se aproxima, de desafio vencido – revelou o vice-almirante Paulo Cesar Stingelim Guimarães, comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra. Patente alta, mas o primeiro da fila dos marchadores.– Aonde as tropas estiverem é dever do comandante estar junto – afirma com firmeza e bom-humor.Segunda vezNão é a primeira vez que os Fuzileiros Navais fazem o trajeto. Em 1960, a mesma iniciativa foi tomada por ocasião da inauguração de Brasília. Na época, entregaram carta para o ex-presidente Juscelino Kubitschek desejando boa sorte à nova capital.Passados 40 anos, será o atual governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, quem receberá carta da corporação. A entrega do documento será feita amanhã, durante as cerimônias de celebração do aniversário da cidade. A festa inclui apresentação da Banda Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais.Os fuzileiros também deixaram marcas onde passaram. Parte da marcha envolveu destacar grupos de homens para realizar ações sociais em 31 escolas da rede pública de ensino. Todas localizadas em cidades ao longo do trajeto. O JB visitou a instituição beneficiada em Cristalina-GO, a Escola Municipal Aleixo Torres Camargo. Os fuzileiros promoveram reparos nas instalações elétricas e hidráulicas, reformaram banheiros e salas de aula, pintaram paredes e muros da escola. A diretora, Neidimar Alves Carneiro, não escondia a felicidade.– Nossa gratidão é enorme.
Jornal do Brasil

Andar para quê? Suboficial preferiu correr, como treino
Percorrer 1.200 quilômetros marchando pode parecer um desafio para a maioria dos mortais. Para Sebastião Ferreira Neto, suboficial de 42 anos, era pouco. Ele preferiu fazer o mesmo trajeto dos companheiros correndo. Desde 1994, o fuzileiro Sebastião é o que os especialistas chamam de ultra-maratonista. Está acostumado a disputar corridas de longa duração, que superam a marca dos 100 quilômetros e levam dias para ser concluídas.Há 14 anos, Sebastião, natural de Mossoró (RN), participou, sem muitas pretensões, de sua primeira prova desse tipo. Chegou em terceiro. Chamou a atenção do Comando da Marinha, que o liberou de algumas atividades típicas do serviço militar para que pudesse se dedicar aos treinamentos.Desde então, já foram 33 provas. O fuzileiro faturou 13. Subiu ao pódio em outras nove. Hoje, ele desponta como um dos favoritos para uma das mais importantes corridas da modalidade, a Transe Gaule, prevista para ser realizada em agosto. Trata-se de uma travessia de 1.166 quilômetros pela França.Quando soube da iniciativa da marcha, encarou como uma oportunidade de treino. Recebeu autorização para sair depois dos companheiros. Chegou antes deles.– Com o tempo que estou fazendo nessa marcha, seria campeão lá na França – vibra Sebastião. – Faço como se fosse uma prova para valer mesmo.Mesma comidaO maratonista se alimenta com a mesma comida do restante da tropa. Mesmo acompanhado de nutricionistas e profissionais de Educação Física, perdeu oito quilos ao longo do trajeto. Cinco tênis não resistiram ao asfalto quente e perderam a sola no meio do caminho.– Parece que foi ontem que subimos Petropólis (RJ). Hoje conheço cada metro da BR-040 na palma da mão. Ou melhor, na sola dos pés – brinca.Sebastião conversou com o JB em Cristalina (GO), quando já havia percorrido 1.085 quilômetros. Acumulava lesões musculares em quase todas as partes do corpo. Mancava severamente. Sem reclamar.– A dor vai vir. Faz parte. É como se fosse uma faca te cortando. Mas se você tem um objetivo bem traçado, se prende a ele – diz.O maratonista explica que o mais importante nesse tipo de prova é estar com o psicológico bem preparado para enfrentar as dificuldades.Além de treinar, Sebastião viveu uma verdadeira aventura ao longo dos 1.200 quilômetros que ligam o Rio de Janeiro a Brasília. Teve que fugir de cachorros animados com sua passagem. Assustou-se incontáveis vezes com freadas bruscas de caminhões desavisados. E até mesmo socorreu um motoqueiro acidentado.– Vou precisar de uns 20 dias para me recuperar. (R.B.)
Jornal do Brasil

Celeiro da França já não produz nem mato
O Haiti ocupa só um terço da Ilha Espanhola, no Caribe. Naquele canto de terra está uma das maiores concentrações populacionais das Américas: 10 milhões de habitantes, 300 pessoas por quilômetro quadrado. O país também é considerado o mais pobre do hemisfério. Nem sempre foi assim. Durante o século 18, ali estava plantada a colônia mais fecunda da França. Um celeiro de açucar, cacau, frutas e café. Agora, em certas regiões, não nasce nem erva daninha.– O solo foi destituído da maior parte de seus nutrientes – diz o professor Jared Diamond, prêmio Pulitzer de 1997, pelo best-seller Armas, Germes e Aço. Professor de fisiologia e geografia da Universidade da Califórnia, Diamond tratou o fenômeno de decadência haitiana no livro Colapso - Como as sociedades optam entre o fracasso e a sobrevivência. – As chuvas também não são favoráveis. Vêm principalmente do lado Leste, caindo mais sobre a vizinha República Dominicana.Mas apenas a falta de água não explica o problema."O Haiti sofreu uma colonização muito predatória. Os franceses apenas extraíam as riquezas naturais e não investiram nada em infra-estrutura, mesmo que fosse para manter as áreas cultivadas", diz Diamond. O desflorestamento e os desmandos de uma fileira de ditadores cleptomaníacos colocaram pás de cal sobre a terra. Quem viajar entre a fronteira dominicana- desde a cidade de Jimaní, para a capital haitiana Porto Príncipe, notará um deserto pedregoso, com antigos leitos de rios secos. As poucas árvores que se mantém são aleijões com galhos amputados. A madeira foi usada como lenha, uma das únicas fontes energéticas do país.Mais de 80% da população vive com menos de US$ 2 por dia. O nível de alfabetização não chega a 10%, num país bilíngue – falam creole e francês. "– A população é alimentada pela comunidade internacional. Não há produção de monta de gêneros no país. É por isso que o Banco Mundial faz um apelo aos países desenvolvidos para a doação de mais US$ 10 milhões para ajudar a conter esta crise mais recente no Haiti – diz Mireille Depailler, da FAO.Em setembro do ano passado, na cafeteria da sede da ONU, em Nova York, o general Carlos Alberto Santos Cruz comia um pão doce. Matava a saudade. Ele é o comandante dos capacetes azuis da Minustah, a missão de estabilização do Haiti.– O problema é que esta calma não vai durar muito. A fome vai causar revolta – dizia o profético general brasileiro.
Jornal do Brasil

Na falta de comida, biscoito de barro
Povo se sustenta com mistura de argila, banha, água e sal cozida sob o sol do Caribe
Osmar Freitas Jr
A notícia caiu na internet como um tijolo: "Haitianos famintos estão comendo terra". Culpa-se a inflação nos preços de alimentos e, por tabela, até a super produção de biocombustíveis. Cana e soja estão ocupando no mundo, os espaços que antes pertenciam ao arroz e feijão, diz Jean Ziegler, relator da ONU para o Direito à Alimentação. Mas não há novidades na gastronomia de horrores caribenha. No Haiti, a argila amarela da cidade central de Hinche faz parte do menu diário, há séculos. A situação da desnutrição atingiu paroxismos nos últimos três meses, quando os preços dos gêneros alimentícios aumentaram 50%. Só recentemente, porém, o público internacional notou as bolachas de terra vendidas nos mercados do país.Há anos, quem anda pelo terreiro aos pés do Fort Dimanche – a antiga prisão juvenil e atual favela – encontra o mercado e a fábrica das bolachas de terra. Mulheres agachadas na rua estendem discos de argamassa em grandes placas de zinco. A receita deste biscoito grosso para as massas é simples: argila, banha, água e sal. Forma-se uma pasta amarela, moldada em pequenos círculos. O cozimento fica por conta do sol infernal: em pouco mais de uma hora, o produto final está pronto para a venda.CarestiaEm 1994 – durante a invasão militar americana que restaurou ao poder o presidente exilado Jean-Bertrand Aristide – a bolacha custava dois centavos de dólar. Naquela época, só os cães e ratos estavam gordos: devoravam os cadáveres das pessoas mortas pelas gangues defensoras da junta militar que comandou o país. Em dezembro passado, o quitute de barro subiu para 4 centavos. Hoje a unidade está a cinco centavos.– Aumentou o preço da terra. Um latão está custando US$ 1.50 – explica a assistente social da ONU, Marie Mandel.Comparado com os preços de outros alimentos - dois copos de arroz à 60 centavos, por exemplo – o biscoito de terra é barato.– Carne, nem pensar – diz Mandel. – As poucas chances de se comer carne vinham das capturas de cães e pássaros. Mas até estes estão sumidos. Os ratos proliferam, mas são mais difíceis de pegar. E um rato adulto chega a US$ 1.Em 1994, alguns repórteres que cobriam a invasão americana participaram de uma sessão de degustação do biscoito de barro. Concordaram com um jornalista americano que, com humor negro, deu o veredicto: "Deixa um gosto de terra na boca. Com toques de gordura". Notava-se também a secura imediata de todo o palato, deixando o comensal desesperadamente sedento. Os goles d'água, que ajudam a empurrar a comida, reconstituem a consistência original da argamassa. O resultado é um bocado de lama no estômago.Gabriel Thimothee, diretor executivo do Ministério da Saúde do Haiti, disse ao JB, por telefone, que os casos de cirurgias gástricas aumentaram 25% nos hospitais do país nos últimos seis meses.– O paciente chega reclamando de cólicas e dificuldades de evacuar. As cirurgias de estômago ou intestino revelam blocos sólidos, como pedras, no interior dos órgãos – conta.O barro vira tijolo no interior das pessoas. E a geofagia – o hábito de comer terra – vai continuar, pois o solo é tão pobre quanto os homens. Há séculos a exploração predatória, a falta de chuvas e os desmandos políticos acabaram com a agricultura neste pedaço da ilha que foi apelidada pelo descobridor Cristovão Colombo de Isla Esmeralda, por causa de seu verde.
O Estado de São Paulo

Marcha festeja 200 anos do Corpo de Fuzileiros
Em comemoração aos 200 anos do Corpo de Fuzileiros Navais, está sendo realizada, desde 28 de março, a Marcha Rio-Brasília. Formada por 230 militares - entre fuzileiros navais e marinheiros -, a expedição percorre a pé 1.170 quilômetros, da Base de Fuzileiros Navais, no Rio, até Brasília. A previsão é de que o grupo chegue à capital federal amanhã. A marcha revive a Operação Alvorada, de 1960, quando militares fizeram o mesmo trajeto para comemorar a inauguração de Brasília.
O Estado de São Paulo

Governo libera estudo para ampliação do porto
A Secretaria Especial de Portos (SEP) autorizou a empresa Santos Brasil S.A, operadora do maior terminal de contêineres do País, a realizar estudos de viabilidade para a implantação do complexo portuário Barnabé Bagres. Trata-se do maior projeto de expansão do setor portuário nacional, que praticamente dobraria a movimentação do Porto de Santos. Com investimentos previstos da ordem de R$ 9 bilhões, a idéia seria expandir o porto dos atuais 7,1 milhões de metros quadrados para 13 milhões. A capacidade de movimentação passaria dos atuais 110 milhões de toneladas para 230 milhões de toneladas.
O Globo

Tropa de fuzileiros conclui trajeto Rio-Brasília a pé
Carolina Brígido
BRASÍLIA - Chegou neste sábado em Brasília a tropa de fuzileiros navais que, há 22 dias, saiu a pé do Rio de Janeiro. A marcha foi realizada em comemoração ao bicentenário do Corpo de Fuzileiros Navais e aos 48 anos do aniversário de fundação da capital federal. Os 230 fuzileiros caminharam 1.170 quilômetros carregando, cada um, uma mochila e um fuzil. O tempo inteiro, a tropa usou roupa camuflada e coturno. Entre os homens, apenas uma mulher se prestou ao desafio: Sônia Brilhante, de 44 anos. Uma caminhada como esta foi realizada em 1960, quando Brasília foi inaugurada. Na ocasião, o presidente Juscelino Kubitschek recebeu os fuzileiros. Neste sábado, os andarilhos foram recebidos pelo comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi convidado, mas não apareceu. - Estou profundamente emocionado - disse o comandante em discurso aos fuzileiros.
O Globo

Tenda é transferida de Jacarepaguá para Baixada
Unidade de hidratação será a quarta na região que já registrou 1.925 casos em 2008
Taís Mendes
Os números elevados de casos de dengue em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, fizeram com que o secretário estadual e de Saúde, Sérgio Côrtes, transferisse uma tenda de hidratação que funcionava no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, para o município. Na cidade, foram registrados até quarta-feira passada 1.925 casos da doença contra 888 em todo o ano passado. O secretário visitou, na manhã de ontem, o novo centro, instalado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. O local tem capacidade para atender até 400 pacientes. - Novamente vemos a necessidade de ampliar a estratégia que deu certo, que são os centros de hidratação. Eles fizeram grande diferença. Depois que implantamos, reduzimos em muito a gravidade dos pacientes. Até o momento não foi registrado nenhum óbito nesses centros - afirmou Côrtes, durante a visita. Em Belford Roxo, o centro de hidratação também realiza atendimentos, ampliando a capacidade da rede. Com essa tenda, que tem atendimento médico e hidratação, a Baixada Fluminense passa a ter quatro unidades específicas para atendimento de pacientes com dengue: duas tendas, uma em Duque de Caxias e outra Belford Roxo, e dois centros de hidratação, onde não há atendimento médico, em Mesquita e São João de Meriti. Em toda a região, foram registrados 16.587 casos este ano. - Nós estamos nos antecipando aqui na Baixada Fluminense, onde vemos um número de casos não muito grande - disse o secretário. O fechamento da tenda no Retiro dos Artistas, onde eram atendidos uma média de 124 pacientes com dengue por dia, não irá, segundo Côrtes, comprometer a assistência na Zona Oeste. O número de casos da doença ainda é grande na região: - Em reuniões que fazemos semanalmente no Hospital de Campanha, na Barra, notamos uma queda importante no número de atendimentos. O que fizemos foi transferir para o Hospital da Aeronáutica os atendimentos do Hospital Cardoso Fontes, que estavam indo para o Retiro dos Artistas. Uma van do governo do estado fará o transporte dos pacientes dos hospitais para o Hospital de campanha da Aeronáutica. Em Belford Roxo, o novo centro tem trinta poltronas, seis a mais do que na tenda de Jacarepaguá. Para a unidade serão encaminhados pacientes com dengue da própria UPA, do Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, e do Hospital Infantil de Belford Roxo.

No comments:

Google